Esta é uma história sobre música, memória e pessoas que se interceptam é sobre o amor a ela, como sobre o que nos une, sobre partilha.

Tudo começa em fevereiro com Tim. Quem o traz é G., para J. que conhece desde a adolescência Caetano. Um álbum que tocou sem parar anos a fio e que sabe de cor. É impossível não reparar na pequena frase gravada na sua memória. Eu, você, nós dois. Longe ainda de imaginar que Prenda Minha voltaria para mudar os dias que se seguiram. Um original de 1969.

J. partilha também com R. a sua descoberta, porque R. aguarda com ansiedade o vinil de Tim, uma prenda para C. “Última Vez tem um verso do Caetano, R.!”

Passam-se dias. Eu, você, nós dois. Ainda não temos um passado. O carro segue para Norte, viagem nocturna acompanhada de boa música, como sempre. A meio da viagem uma mensagem de R. para J. “eu, você, nos dois já temos um passado, aparece nesta também. Penso que é a voz de Gal” - a ligação segue para you don´t know me”. Transa toca o resto da viagem. G. e J. seguem para norte na voz de Caetano.

Passam-se dias. Passam-se dias de silêncio. Passam-se dias. Passam-se dias. Vous ne Desirez que Moi. J. R. e C. voltam a Saudosismo, vem Gal também e Tim, o vinil que demorou a chegar e acabara de tocar havia poucos dias.

Segue-se o tempo. Chegam cravos do Alentejo a meio da noite e com eles uma mensagem que ainda não consigo descodificar. Como eu gostava desses recados noturnos. Agora inexistentes. Talvez sempre vazios de significado, além da vontade de fugir da solidão.

Segue-se o tempo. R. traz notícias de C. uma nova descoberta. Fotografia. Tom e Elis. Eu, você, nós dois. Caetano e Jobim têm um passado. Gilberto toca na vitrola sem parar. Tom. Caetano. Gal. Tim. C. R. J. G.

Esta é uma história sobre mim, música e pessoas que se interceptam, é sobre o amor a ela. Por ela, para ela. Sobre o que nos une, sobre partilha, sobre pessoas que não cabem aqui mas estão aqui, sobre ausências que ocupam espaço, sobre sons que soam a vazios. Sobre mensagem encriptadas sobre as quais ainda se desconhece significado. Sobre significados que podem nunca ter existido se não em mim. Eu, você, nós dois.